Daltonismo
O daltonismo (também chamado de discromatopsia ou discromopsia)
é uma perturbação da percepção visual onde se vê várias cores caracterizada
pela incapacidade de diferenciar todas ou algumas cores, manifestando-se muitas vezes
pela dificuldade em distinguir o verde do vermelho.
Esta perturbação tem normalmente origem genética,
mas pode também resultar de lesão nos órgãos responsáveis pela visão, ou de
lesão de origem neurológica.
O distúrbio, que era
conhecido desde o século XVIII,
recebeu esse nome em homenagem ao químico John Dalton, que foi o primeiro
cientista a estudar a anomalia de que ele mesmo era
portador. Uma vez que esse problema está geneticamente ligado ao cromossomo X,
ocorre com maior freqüência entre os homens, que possuem apenas um
cromossomo X, enquanto mulheres possuem dois.
Os portadores do gene
anômalo apresentam dificuldade na percepção de determinadascores primárias, como o
verde e o vermelho, o que se repercute na percepção das restantes cores do espectro. Esta perturbação é causada
por ausência ou menor número de alguns tipos de cones ou por uma perda de função parcial ou
total destes, normalmente associada à diminuição de pigmento nos
fotorreceptores que deixam de ser capazes de processar diferencialmente a informação luminosa de cor
Cores primárias no sistema RGB.
As
três cores primárias são captadas pelos cones e combinam-se formando uma imagem
colorida.
A retina humana possui três tipos de células sensíveis à cor, chamadas cones. Cada
um deles é sensível a uma determinada faixa
de comprimentos de onda do espectro luminoso, mais precisamente
ao picos situados a 419 nm (azul-violeta), 531 nm (verde) e
559 nm (verde-amarelo).
A classificação dos
cones em "vermelho", "verde" e "azul" (RGB) é uma
simplificação usada por comodidade para tipificar as três frequências alvos,
embora não corresponda à sensibilidade real dos fotorreceptores dos cones.
Todos os tons existentes derivam da combinação dessas três cores primárias.
As tonalidades visíveis
dependem do modo como cada tipo de cone é estimulado. A luz azul, por exemplo, é captada pelos
cones de "alta frequência". No caso dos daltônicos, algumas dessas
células não estão presentes em número suficiente ou registam uma anomalia no
pigmento característico dos fotorreceptores no interior dos cones.
Tipos de daltonismo
Não existem níveis de
daltonismo, apenas tipos. Podemos considerar que existem três grupos de
discromatopsias: monocromacias, dicromacias e tricromacias
anómalas.
Monocromacia ocorre quando há apenas percepção de luminosidade na visão
dos animais. São as células bastonetes as responsáveis por esta percepção, que
permite variações diferentes da cor cinza. Normalmente, os monocromatas
apresentam a chamada "visão em preto e branco".
§
O monocromata
típico é caracterizado pelo
monocromatismo de bastonetes, que corresponde a uma discriminação de cores
nulas pela falta de cones. Ocorre na população humana com uma incidência de
0,003% nos homens e de 0,002% nas mulheres. Essa característica é encontrada em
muitos animais, como aqueles de hábitos noturnos, peixes abissais, cachorros e
pinguins.
§
O monocromata
atípico possui um
monocromatismo de cones, assim a não discriminação de cores é devido a falta de
sinais oponentes por ter apenas um tipo de cone. É muito raro na população
humana. É encontrado em alguns animais, como em alguns ratos e no quivi, ave
neozelandesa, que enxergam tons no espectro da luz verde.
A dicromacia, que resulta da
ausência de um tipo específico de cones, pode apresentar-se sob a forma de:
§
protanopia, em que há ausência na retina de cones
"vermelhos" ou de "comprimento de onda longo", resultando
na impossibilidade de discriminar cores no segmento verde-amarelo-vermelho do
espectro. O seu ponto neutro encontra-se nos 492 nm. Há igualmente menor
sensibilidade à luz na parte do espectro acima do laranja.
§
deuteranopia, em que há ausência de cones "verdes"
ou de comprimento de onda intermédio, resultando, igualmente, na
impossibilidade de discriminar cores no segmento verde-amarelo-vermelho do
espectro.Trata-se uma das formas de daltonismo mais raras(cerca de 1% da
população masculina), e corresponde àquela que afectou John Dalton (o
diagnóstico foi confirmado em 1995, através do exame do Ácido desoxirribonucleico do seu globo ocular). O seu ponto
neutro encontra-se nos 492 nm.
§
tritanopia, em que há ausência de cones "azuis"
ou de comprimento de onda curta, resultando na impossibilidade de ver cores na
faixa azul-amarelo.
A tricromacia anómala resulta de uma mutação no pigmento dos
fotorreceptores dos cones retinianos, e manifesta-se em três anomalias
distintas:
§
protanomalia, presença de uma mutação do pigmento sensível
às frequências mais longas ("cones vermelhos"). Resulta numa menor
sensibilidade ao vermelho e num escurecimento das cores perto das frequências
mais longas (que pode levar à confusão entre vermelho e preto). Atinge cerca de
1% da população masculina.
§
deuteranomalia, presença de uma mutação do pigmento sensível
às frequências intermédias ("cones verdes")). Resulta numa maior
dificuldade em discriminar o verde. É responsável por cerca de metade dos casos
de daltonismo.
§
tritanomalia, presença de uma mutação do pigmento sensível
às frequências curtas ("cones azuis"). Forma mais rara, que
impossibilita a discriminação de cores na faixa do azul-amarelo. O gene
afectado situa-se no cromossoma 7 ao contrário das outras tricromacias
anómalas, em que a mutação genética atinge o cromossoma X.
Um tipo raro de
daltonismo é aquele em que há uma "cegueira" completa para as cores:
o mundo é visto a preto e branco e em tons de cinza. Nesse caso,
estamos perante aquilo a que se dá o nome de visão
acromática.
Genética
A mutação genética que provoca o daltonismo sobreviveu
pela vantagem dada aos daltônicos ao longo da história evolutiva. Essa vantagem
advém, sobretudo, do fato de os portadores desses genes possuírem uma melhor
capacidade de visão noturna, bem como maior capacidade de reconhecerem
elementos semiocultos, como animais ou pessoas disfarçadas pela sua camuflagem.
Como o daltonismo é
provocado por genes recessivos localizados no cromossomo X (sem alelos no Y), o problema ocorre muito mais
frequentemente nos homens que nas mulheres. Estima-se que 8% da população
masculina seja portadora do distúrbio, embora apenas 1 % das mulheres
sejam atingidas.
Genótipo
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Fenótipo
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Detalhes
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Mulher com visão
normal
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Homozigótica não
portadora do gene anômalo (DD, normal)
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Mulher com visão
normal
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Heterozigótica
portadora do gene anômalo (Dd, normal)
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|
Mulher daltónica
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Homozigótica recessiva
(dd, daltónica)
|
|
Homem com visão normal
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Homozigótico dominante
(D, normal)
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Homem daltónico
|
Homozigótico recessivo
(d, daltónico)
|
No caso de um indivíduo
do sexo masculino, como não
aparece o alelo D, bastará um simples gene recessivo para que ele manifeste
daltonismo, o que não acontece com o sexo
feminino pois, para manifestar a
doença, uma mulher necessita dos dois genes recessivos dd.
§
Se a mãe não for daltónica nem portadora (DD) e o pai possuir
visão normal (D), nenhum dos descendentes será daltónico nem portador.
§
Se a mãe possuir visão normal (DD) e o pai for daltónico (d),
nenhum dos descendentes será daltônico, porém as filhas serão portadoras do
gene (Dd).
§
Se a mãe for portadora do gene (Dd) e o pai possuir visão normal
(D), há a probabilidade de 50% dos filhos serem daltónicos e 50% das filhas
serem portadoras do gene.
§
Se a mãe for portadora do gene (Dd) e o pai for daltónico (d), 50%
dos filhos e das filhas serão daltónicos.
§
Se a mãe for daltónica (dd) e o pai possuir visão normal (D),
todos os filhos serão daltónicos (d) e todas as filhas serão portadoras (Dd).
§
Se a mãe for daltônica (dd) e o pai também (d) 100% dos filhos e
filhas também serão daltônicos.
Diagnóstico
Figura
do teste de Ishihara, método utilizado para diagnosticar o daltonismo. Pessoas
portadoras de alguns tipos de daltonismo não verão o número 8.
Existem três métodos
para se diagnosticar a presença do daltonismo e determinar em que grau ele está
afetando a percepção das cores de uma pessoa:
§
anomaloscópio de Nagel - consiste em um aparelho onde o indivíduo que vai ser
examinado tem seu campo de visão dividido em duas partes. Uma delas é iluminada
por uma luz monocromática amarela, enquanto a outra é iluminada por uma
diversas luzes monocromáticas verdes e vermelhas. O examinado deve tentar
igualar os dois campos, alterando a razão entre a intensidade das luzes
vermelha e verde, e modificando a intensidade da luz amarela;
§
lãs de Holmgreen - consiste na avaliação da capacidade de separar
determinados fios de lã em
diversas cores;
§
teste de cores de Ishihara - consiste na exibição de uma série de cartões pontilhados
em várias tonalidades diferentes. Esse é o método mais frequentemente utilizado
para se diagnosticar a presença do daltonismo, sobretudo nas deficiências
envolvendo a percepção das cores vermelho e verde. Uma figura (normalmente uma
letra ou algarismo) é desenhada em um cartão contendo um grande número de
pontos com tonalidades que variam ligeiramente entre si, de modo que possa ser
perfeitamente identificada por uma pessoa com visão normal. Porém um daltônico
terá dificuldades em visualizá-la.
Como o teste de Ishihara não pode ser utilizado por crianças ainda não alfabetizadas,
desenvolveu-se um método secundário onde os cartões, em vez de números e
letras, contêm desenhos de figuras geométricas,
como quadrados, círculos e triângulos,
que podem facilmente ser identificados por crianças em idade pré-escolar.
Tratamento
Atualmente não existe
nenhum tipo de tratamento conhecido para esse distúrbio. Há porém, uma empresa
americana fabricando lentes que permitiriam a distinção de cores pelos
daltônicos. Elas seriam seletivas quanto à passagem de luz, bloqueando o
necessário para corrigir defeitos da visão. Os tais óculos custam cerca de US$
700. Mas alguns estudiosos ainda encaram a iniciativa com reservas alegando que
não há estudos científicos que reconhecidamente indiquem o método.
Porém, um daltônico pode
viver de modo perfeitamente normal, desde que tenha conhecimento das limitações
de sua visão. O portador do problema pode, por exemplo, observar a posição das
cores de um semáforo, de modo a
saber qual a cor indicada pela lâmpada.
Como na idade escolar surgem as primeiras dificuldades com
cores, sobretudo em desenhos e mapas,
os pais e professores devem estar atentos ao problema,
evitando constranger e traumatizar a criança.
Pode ser frustrante para uma criança ter a certeza de que está vendo algo em
determinada cor, enquanto todos os colegas e a professora afirmam que ela está
errada.
Em 2009 pesquisadores
da Universidade de Washington e da Universidade
da Flórida conseguiram
restabelecer o processo de visão de macacos da espécie Saimiri sciureus através de tratamento genético.
Adaptações
Para um daltônico,
navegar em websites coloridos da Internet pode ser uma experiência não muito
agradável. Alguns textos podem estar ilegíveis, ou mesmo a leitura dos gráficos
pode ser impossibilitada devido o esquema de cores utilizado. Para possibilitar
a leitura destes textos e gráficos foi desenvolvido por Daniel Ruoso, um
desenvolvedor daltônico, o libcolorblind que é um software que faz transformações nas cores no
sentido de permitir que cores dúbias sejam colocadas em posições diferentes do espectro de cor, de forma a tornarem-se
diferenciáveis por um daltônico. O programa de acessibilidade do Gnoma, gnome-mag, tem suporte a esse
software e fornece uma maneira intuitiva de ativar e desativar os filtros.
Algumas cidades já
possuem semáforos adaptados para os portadores de
daltonismo (quer condutores/quer pedestres), que apresentam uma faixa branca ao
lado da luz amarela, possibilitando ao daltônico distinguir qual a cor do sinal
aceso pela posição da luz (acima ou abaixo da faixa).
Lápis de cores podem ter o nome de cada cor gravada
em seu corpo de modo a facilitar sua identificação.
Direito dos portadores de daltonismo
A justiça brasileira
reconheceu que os portadores de daltonismo são sujeitos dos direitos que a
Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
contra Pessoas Portadoras de Deficiência estabelece e que cursos de educação
complementar públicos ou privados devem promover adaptações em materiais didáticos
para possibilitar o acesso dos daltônicos a informação.
- ↑ G1. Cientistas curam daltonismo em macacos com terapia genética .
- ↑ Acordão da 4º Turma Recursal do Tribunal de Justiça da Bahia - Direito dos Daltônicos à Educação .
- ↑ Publicação no Diário Oficial do TJBA
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